11/11/2013

Estragou a televisão (Veríssimo)

-- Iiiih... 
-- E agora? 
-- Vamos ter que conversar. 
-- Vamos ter que o quê? 
-- Conversar. É quando um fala com o outro. 
-- Fala o quê? 
-- Qualquer coisa. Bobagem. 
-- Perder tempo com bobagem? 
-- E a televisão, o que é? 
-- Sim, mas aí é a bobagem dos outros. A gente só assiste. Um falar com o outro, assim, ao vivo... Sei não... 
-- Vamos ter que improvisar nossa própria bobagem. 
-- Então começa você. 
-- Gostei do seu cabelo assim. 
-- Ele está assim há meses, Eduardo. Você é que não tinha... 
-- Geraldo. 
-- Hein? 
-- Geraldo. Meu nome não é Eduardo, é Geraldo. 
-- Desde quando? 
-- Desde o batismo. 
-- Espera um pouquinho. O homem com quem eu casei se chamava Eduardo. 
-- Eu me chamo Geraldo, Maria Ester. 
-- Geraldo Maria Ester?! 
-- Não, só Geraldo. Maria Ester é o seu nome. 
-- Não é não. 
-- Como, não é não? 
-- Meu nome é Valdusa. 
-- Você enlouqueceu, Maria Ester? 
-- Pelo amor de Deus, Eduardo... 
-- Geraldo. 
-- Pelo amor de Deus, meu nome sempre foi Valdusa. Dusinha, você não se lembra? 
-- Eu nunca conheci nenhuma Valdusa. Como é que eu posso estar casado com uma mulher que eu nunca... Espera. Valdusa. Não era a mulher do, do... Um de bigode...
-- Eduardo. 
-- Eduardo! 
-- Exatamente. Eduardo. Você. 
-- Meu nome é Geraldo, Maria Ester. 
-- Valdusa. E, pensando bem, que fim levou o seu bigode? 
-- Eu nunca usei bigode! 
-- Você é que está querendo me enlouquecer, Eduardo. 
-- Calma. Vamos com calma. 
-- Se isso for alguma brincadeira sua... 
-- Um de nós está maluco. Isso é certo. 
-- Vamos recapitular. Quando foi que casamos? 
-- Foi no dia, no dia... 
-- Arrá! Tá aí. Você sempre esqueceu o dia do nosso casamento... Prova de que você é o Eduardo e a maluca não sou eu. 
-- E o bigode? Como é que você explica o bigode? 
-- Fácil. Você raspou. 
-- Eu nunca tive bigode, Maria Ester! 
-- Valdusa! 
-- Tá bom. Calma. Vamos tentar ser racionais. Digamos que o seu nome seja mesmo Valdusa. Você conhece alguma Maria Ester?
-- Deixa eu pensar. Maria Ester... Nós não tivemos uma vizinha chamada Maria Ester? 
-- A única vizinha de que eu me lembro é a tal de Valdusa. 
-- Maria Ester. Claro. Agora me lembrei. E o nome do marido dela era... Jesus! 
-- O marido se chamava Jesus? 
-- Não. O marido se chamava Geraldo. 
-- Geraldo... 
-- É. 
-- Era eu. Ainda sou eu. 
-- Parece... 
-- Como foi que isso aconteceu? 
-- As casas geminadas, lembra? 
-- A rotina de todos os dias... 
-- Marido chega em casa cansado, marido e mulher mal se olham... 
-- Um dia marido cansado erra de porta, mulher nem nota... 
-- Há quanto tempo vocês se mudaram daqui? 
-- Nós nunca nos mudamos. Você e o Eduardo é que se mudaram. 
-- Eu e o Eduardo, não. A Maria Ester e o Eduardo. 
-- É mesmo... 
-- Será que eles já se deram conta? 
-- Só se a televisão deles também quebrou.

10/11/2013

Vencer distâncias.

Perdido, sem foco.
O velho eu ataca novamente. Emergindo daquele escuro vazio em que me encontrara naquele tempo.
Já não sou eu mesmo há um tempo, há um tempo que me procuro.

Não vejo outras saídas. Eu me perdi.
Há um considerável número de pessoas que me rodeiam e que supostamente me "amam", mas eu simplesmente não me vejo nesse ciclo, não me encaixo. Eu não vejo outra saída.
Só queria que isso acabasse.
Só queria entender porque teve de ser assim. Só respostas é o que peço.

A distância me venceu, eu fraquejei.
Não há mais volta, é bem provável que a resposta mais cobiçada do universo bata em minha porta em breve.
Eu realmente quero que isso acabe, não quero ser um peso na vida de ninguém, mas não sou capaz de fazer por mim mesmo.

Eu sou um mero peso, igual à aquele que as pessoas usam pra impedir as portas de baterem...
Sou ainda mais inútil do que isso.
Eu sou inútil.
Egocêntrico, olhe esse texto, por exemplo: Quatro parágrafos sobre a minha pessoa.

Obrigado por tentarem me mostrar que valho de algo.